Sob fogo cruzado dos principais partidos que integram a coalizão do
governo da presidenta Dilma Rousseff, o Partido dos Trabalhadores (PT)
se prepara para enfrentar a batalha das urnas, nas eleições municipais
de outubro próximo, com o propósito de fortalecer a legenda e conquistar
prefeituras estratégicas, como São Paulo, Salvador e Porto Alegre. Para
encarar este desafio, num momento delicado nas relações com os partidos
da base aliada no Congresso Nacional, o PT vai contar com seu maior
cabo eleitoral e estrela da sigla, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, que se recupera do tratamento de combate a um câncer na laringe,
informa o presidente nacional da sigla, Rui Falcão, em entrevista
exclusiva à Elizabeth Lopes, da Agência Estado. Segundo o dirigente
petista, Lula está com muita disposição para trabalhar, não apenas em
favor de seu afilhado político, o ex-ministro Fernando Haddad, mas
também do próprio fortalecimento da legenda.
A campanha dele está indo muito bem, porque em nenhum momento se alterou o planejamento inicial. Ele precisa popularizar o nome e as visitas aos bairros da cidade irão propiciar isso, ainda mais porque o PT perdeu a veiculação dos programas de TV (neste primeiro semestre). Como ele não é muito conhecido, seu potencial de crescimento também é grande, por isso, ele tem gasto muita sola de sapato, nas andanças pela cidade. Estamos no caminho certo, o PT está unido e chegaremos ao segundo turno.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai entrar com força total na campanha deste ano?
Ele disse que teria compromissos no Instituto Lula, mas que iria priorizar, a partir deste ano, não apenas as eleições municipais, como também uma campanha em prol do PT e do 13 (número do partido). Uma campanha vote no PT, vote nos candidatos do PT, vote no 13.
Mas Lula poderá fazer a diferença numa eleição acirrada como a de São Paulo?
Claro que fará, pois quem saiu com mais de 80% em uma cidade como São Paulo, tem mais influência no voto. E quando se associa o nome de Haddad ao de Lula, seu patamar de intenção de voto chega à casa dos 25%.
Qual a avaliação que o senhor faz da entrada do tucano José Serra na disputa na Capital?
Não escolhemos adversário, embora seja um nome do ponto de vista das opções dos tucanos, um nome que hoje é eleitoralmente mais forte, Serra tem um telhado de vidro enorme. Seja pelo atual estado precário da cidade ou pela falta de importância que ele dá aos compromissos. Isso tem de ser mostrado à população. Quando ele disse que iria ficar os quatro anos (na Prefeitura, quando eleito em 2004) e não ficou, seus compromissos com a cidade podem também representar palavras ao vento.
E a nacionalização do debate que Serra está tentando imprimir neste pleito?
Apesar da prioridade que daremos aos assuntos da cidade, este é um debate que vai ser ótimo para nós. Confrontar o governo dele (do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso) com o nosso, só nos favorece.
A base aliada vive um momento de rebelião, sobretudo contra o PT...
Não creio que haja rebelião da base aliada, vivemos apenas um momento de estresse, motivado pelas eleições municipais. Os conflitos são naturais, ainda mais que alguns partidos irão bater chapa conosco em alguns municípios. O PMDB continua sendo nosso grande aliado, sem menosprezar as outras legendas.
Mas alguns dirigentes da base aliada acusam o PT de deter muito poder no atual governo.
Deve haver um equilíbrio no bloco que sustenta a nossa presidenta. O PT não adota a política do 'toma lá, dá cá'. Aliás, nós temos a presidenta da República e nada mais importante para um partido do que chegar à Presidência. Além disso, temos ministérios importantes e priorizamos a qualidade do governo como um todo. Ainda que ninguém goste de perder espaço, isso não provoca terremoto no PT e como o PT tem maior responsabilidade de governo, o partido é sempre o mais compreensivo.
E a presidenta Dilma Rousseff, pode entrar na campanha municipal?
A presidenta diz que a melhor maneira de ajudar os aliados e o PT é fazer um bom governo. E ela tem mesmo de cuidar do governo, até por conta da crise internacional, que temos permanecido quase ilesos. Imagino que ela manterá essa postura, não há razão para ela romper essa postura e fazer campanha em São Paulo, até porque aqui temos um outro aliado na disputa, o PMDB.
E se a campanha do Haddad precisar do apoio de Dilma?
Creio que só se houver uma grande polarização (como PT e PSDB no segundo turno), e mesmo assim, vai depender de como o Serra irá tocar a sua campanha.
E a campanha do PT em todo o País?
O PT está montando uma sala, no Diretório Nacional, batizada de sala da situação, pra acompanhar o que acontece em cada lugar do País. No final de março, vamos promover cursos de formação para preparar prefeitos e vereadores, pela Escola de Formação Política do PT. Há um ranço que o PT é só São Paulo, e não é. Visitei todas as 27 capitais em seis meses para dar uma dimensão regional à legenda. E nosso desafio neste pleito é manter o que temos, 559 cidades, incluindo as pequenas, reconquistar o que perdemos, como São Paulo, Santo André, Porto Alegre e ganhar outras cidades estratégicas, como Salvador.
Nas campanhas passadas, era comum dizer que o problema do PT era mesmo o PT, agora é possível dizer que o problema é a base aliada?
Não creio nisso. Nós convivemos com uma base grande no governo Lula e essa base ampliou um pouco agora, no governo Dilma Rousseff. Governos de coalizão exigem tempo, carinho, conversa, negociação. Se todos fossem do mesmo partido, as contradições seriam menores, a arte da política é compatibilizar esses conflitos. Se isso é problema, é problema da democracia. É claro que se não cuidar, uma poça pode virar uma lagoa.
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