segunda-feira, 26 de maio de 2014

Entrevista com o investigado por ameaças ao presidente do STF


Há um mês, um militante do Partido dos Trabalhadores estampou a capa da Veja, revista de maior circulação no país. O brasiliense Sérvolo Oliveira e Silva foi acusado de postar ameaças de morte ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, em uma rede social. À época das postagens, 15 de novembro de 2013, Sérvolo era secretário de organização do diretório petista em Natal. Quando o caso ganhou a mídia nacional, Sérvolo já não estava na capital potiguar – retornara à Foz do Iguaçu (PR) em 4 de março. Mas as repercussões em Natal foram muitas: o presidente do diretório regional, Juliano Siqueira, chegou a afirmar que já havia desfiliado o militante do partido, e o vereador Fernando Lucena negou ter relações com o brasiliense.

Em breve, o militante deve se apresentar à superintendência da PF em Foz para prestar esclarecimentos. Em entrevista exclusiva à TRIBUNA DO NORTE, Sérvolo adianta seus argumentos: ele se diz “arrependido” das postagens na internet, mas reafirma que as declarações não se configuram como ameaça. O militante detalha sua atuação dentro do partido, o relacionamento com nomes da alta cúpula, como Delúbio Soares e João Paulo Cunha, e taxa os companheiros do diretório natalense de “covardes”. Confira a entrevista.

Quando você chegou a Natal?
Eu cheguei a Natal no dia 1º de maio de 2013 para participar de uma eleição do Sindicato dos Correios. Quando acabou a eleição surgiu o convite do Fernando Lucena para eu trabalhar com ele. Trabalhei na Câmara Municipal e fui a vários eventos representando ele, trabalhei de agosto à março deste ano. Vi uma entrevista com o Lucena e fiquei muito chateado com a postura dele, ele tem uma memória muito curta e uma postura muito estranha. 

O que você pretende apresentar para a Polícia Federal? Você vai afirmar que é questão de interpretação?
O post, que é o lombo da serpente, foi postado no dia 15 de novembro. Era um feriadão e eu estava dando expediente no Sindlimp. Meu post não diz nem direta nem indiretamente que eu vou fazer nada. 

Mas o que motivou essa postagem?
A motivação é muito ampla, mas foi a maior idiotice que eu fiz na minha vida. O que eu espero que reste de bom disso é o meu exemplo. Eu estava irritado com a prisão do Delúbio Soares e dos outros companheiros. 

Você tinha alguma relação direta com Delúbio?
Agora eu ia começar a ter, pois estava em uma instância estadual. Em 2001 fui delegado nacional, então tive relações normais, como qualquer militante. Já estive na casa dele, em Buriti Alegre (GO), coordenei há uns quatro anos uma campanha para ele ser refiliado ao partido, mas tudo isso sem ninguém me pedir isso. Criei o grupo “Petistas com Delúbio” porque tinha uma admiração grande por ele, pela coragem que teve e está tendo. Nunca negou o que fez, assim como eu não estou negando. Mas ameaça de morte ali não tem. Se você prestar atenção, mudaram até a pontuação da minha postagem.

Mas a mudança na pontuação altera o teor da mensagem? Você não postou que o ministro “merecia um tiro na cabeça”?
Eu não ameacei o ministro de morte, em nenhum momento. O que postei foi uma previsão, não chega nem a ser um desejo. Eu realmente acho que é o que vai acabar acontecendo com ele: um jogo muito pesado, e ele é muito vaidoso. Também acredito que a investigação foi desencadeada porque há uns dois anos eu usava o nome “Aimoré-Botocudo” na internet em vez do meu sobrenome original. Mas não tive perfil falso. No meu perfil, eu fiz um comentário “infeliz”, mas minha postura é essa: está lá e vai continuar lá.

Você deseja essa morte ao Joaquim Barbosa?
Não, não é um desejo meu, e já tive muitos problemas por causa disso. Minha mãe de santo (ele é adepto do candomblé) está muito chateada com essa história. Mas também não vou me assustar se algo do tipo acontecer com ele.

O fato de você ser ou ter sido integrante da Comissão de Ética do diretório estadual não agrava ainda mais a situação?
Olha, em nenhum momento fui da Comissão de Ética, até porque ela nunca se reuniu. Fui indicado e eleito pelo grupo de Fernando Lucena, mas não cheguei a tomar posse. Mas é claro que eu, como um membro da comissão de ética e da secretaria de organização, deveria ter pesado os meus atos. 

A eleição foi ano passado?
Ela faz parte da Comissão de Ordenamento Eleitoral, que coordena as eleições. Ela surgiu para organizar as eleições, já que tinha outro grupo, o da dona Fátima (Bezerra) que queria ganhar no grito. Meu nome estava na chapa e eu fui eleito, mas não cheguei a assumir nem vai constar no meu currículo.

Então, dentro do PT, você era apenas secretário e comissionado no gabinete de Fernando Lucena?
Comissionado não, porque ele nunca me nomeou. Mas trabalhei lá. A postura com que o Juliano (Siqueira) e o Lucena estão tratando isso, não me leva a ter mais nenhum tipo de respeito com esses dois senhores.

O que mudou na sua vida com as investigações da polícia? Teve problemas dentro do partido?
A minha vida mudou muito, virou um inferno. Trouxe problemas para a minha família, minha segurança. Eu sou ameaçado constantemente no Facebook, já fui reconhecido na rua. Foi isso que a Veja fez. Eu abandonei a política quando saí de Natal, a decisão foi isso. Eu jamais teria como militar no PT do Paraná, apesar de estar aqui desde 2000. Discordo da militância aqui. Então eu estava prestando serviço operacional, de garçom, e não tenho mais como. Eu trabalho também com comunicação social, e tinha quatro entrevistas neste mês com candidatos para que eu assessorasse a campanha. Depois dessa investigação eles nem me atenderam mais. Bagunçou a minha vida. Não consigo nem como calcular isso. 

Você hoje não tem nenhuma atuação no partido? Você ainda está vinculado?
Estou me desligando desde fevereiro, ia postar uma nota me despedindo do partido, até porque uns integrantes do Lucena começaram a me ligar, me pressionar para isso.

Você realmente solicitou a desfiliação do partido? O presidente do PT Natal disse que nunca chegou a ter relações com você...
Isso é complicado de entender porque envolve meus sentimentos pessoais. Quando resolvi voltar para Foz, realmente comentei que ia me desfiliar. Não me desfiliei, mas realmente tinha tomado a decisão política. Quando chegou a intimação para mim – no sábado, porque no diretório do partido chegou na quarta-feira, mas não me encaminharam – eu resolvi não me desfiliar. Na verdade o que acontece é que Juliano (Siqueira) é um recalcado, um mentiroso, com um passado brilhante, mas desde que assumiu o mandato, nada fez. Mas eu participei da campanha dele, “Ousar Lutar, Ousar Vencer”, tenho fotos das reuniões com Juliano ao meu lado. Fui um dos coordenadores da campanha. Ele está fazendo isso porque é um covarde. Ele não é petista, entende o PT como uma estratégia.

O diretório falou que você enviou e-mail solicitando a desfiliação...
Não. Mandei e-mail pedindo o procedimento e perguntando por que demoraram para mandar minha intimação. Apesar de eu já ter intenção de me desfiliar do partido, não oficializei isso. Não recebi nenhum comunicado de desfiliação do diretório. Agora também não saio mais. 

Você está decepcionado com o partido?
Jamais. Vou lançar uma nota reafirmando o meu compromisso com o projeto que está em curso.

Ao final de tudo, você pretende sair?
É difícil responder isso agora. O que posso dizer é que não vou militar mais. Meu plano era exatamente esse, trabalhar com imagem, em campanhas, o que faço muito bem. Mas depois dessa capa da Veja acho difícil.

Você tem medo de ser preso?
Eu tenho preocupações maiores do que essa. O crime de ameaça de morte, ele prevê prisão por seis meses. Ninguém vai preso por seis meses. Se por um acaso eu fosse condenado, ainda assim eu não seria preso. Mas o que a mídia inteira está fazendo pode criar um fato e pode me colocar na Papuda, talvez para envolver ainda mais o partido numa ação que foi pessoal. Nenhum desfecho daqui para a frente vai me surpreender, tenho medo só de morrer pelas ameaças que chegam. Pelo o que eu fiz eu não temo nada.

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