Depois de enfrentar uma das maiores crises de sua história, com a perda de correligionários para o recém-criado PSD do prefeito Gilberto Kassab, a direção do Democratas (DEM) pretende recuperar espaço nas eleições municipais de 2012 e se fortalecer para a disputa de 2014, incluindo até a hipótese de um voo solo para a sucessão presidencial. Apenas em 2011, o DEM perdeu 17 deputados federais de um total de 43, um senador de um total de seis parlamentares e um governador de um total de dois, além de prefeitos, vereadores e deputados estaduais, a maioria para o PSD.
Em entrevista exclusiva aos jornalistas Daiene Cardoso e Gustavo Uribe, da Agência Estado, o senador José Agripino Maia (RN), presidente nacional do DEM, diz que a perda de quadros foi numérica e não de essência, e que o apoio do DEM a um candidato tucano na sucessão presidencial "não é compulsório". O dirigente do DEM não poupou críticas ao tucanato que, em sua opinião, "está precisando se reencontrar".
Ele também não economizou estocadas ao PSD que, embora não seja considerado por ele o "inimigo preferencial" do DEM, é visto como um partido "sem história". No Rio Grande do Norte, o PSD é presidido pelo vice-governador Robinson Faria, que rompeu politicamente com Rosalba Ciarlini, a única filiada ao DEM com mandato de governador. "Eles para lá e nós pra cá", decreta Agripino ao responder sobre como é a relação politica com o PSD. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
O surgimento do PSD, em 2011, foi o golpe mais duro já dado contra o DEM?
Eu não diria que tenha sido o golpe mais duro. Ele foi um golpe que nos atingiu numericamente, mas não na nossa essência. As figuras emblemáticas do partido ficaram todas. O partido perdeu aqueles que fizeram uma clara opção pelo seu interesse pessoal. Os que tinham consciência partidária, aqueles que guardam a história do partido, esses ficaram todos.
O senhor assumiu o comando do DEM em meio a uma crise interna sem precedentes. Algo poderia ter sido feito para evitar essa debandada?
Eu poderia ter feito alguma coisa se eu concordasse com a desfiguração do partido. Em um dado momento, ficou claro que não haveria perda numérica se nos anexássemos a uma outra agremiação ou se mudássemos a orientação do partido. Isso aí nem eu, nem os que ficaram, concordavam.
Durante a crise, alguns sugeriram que o DEM poderia ser incorporado ao PSDB. Essa possibilidade ainda existe?
Essa hipótese não está nas nossas conjecturas. O DEM é um partido que, se perdeu as eleições, a ele está reservado o papel de oposição. A democracia é governo e oposição. Se você zerar a oposição, a democracia brasileira fica como a venezuelana, que passou muito tempo como uma nação de um partido de um lado só. A hipótese de fusão com o PSDB está fora da ordem do dia do DEM.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu que o PSDB perdeu, até certo ponto, o rumo. O senhor pensa da mesma maneira?
Não acho que o PSDB esteja sem rumo, ele está precisando se reencontrar. O PSDB é outro partido que, como nós, tem história. O que é preciso é o partido se reencontrar com sua história. O PSDB tem de se reencontrar com a formulação programática que deu os ganhos que o Brasil teve com o governo Fernando Henrique Cardoso/Marco Maciel.
E o que fez o PSDB se desencontrar?
Fica difícil fazer uma avaliação crítica de um parceiro, mas vamos lá. Nas campanhas eleitorais, o PSDB, e isso é uma crítica feita de modo geral, permitiu que transformassem o processo de privatização em uma coisa demonizada, quando na verdade foi importante. Em um dado momento, o PSDB intimidou-se da necessidade de defender a modernidade frente à caridade defendida pelo PT. Esse foi um erro cometido.
Quem é hoje o maior inimigo do DEM? É o PT da presidente Dilma Rousseff ou o PSD do prefeito Gilberto Kassab?
São as ideias atrasadas. Eu acho que o tamanho gigante da máquina pública, o gasto público desmesurado, a carga de impostos incivilizada, esses são os nossos grandes inimigos. E é claro que o PT defende isso tudo. O PT pratica isso. O PT e todos aqueles que dão guarida ao PT.
Como ficaram as relações do partido com os ex-filiados que migraram para o PSD?
São civilizadas, mas eles pra lá e nós pra cá.
Há a hipótese do DEM fazer alianças regionais ou nacionais com o PSD?
O PSD é um partido feito por pessoas que não têm uma história. O DEM tem uma história. Na hora que fizermos uma aliança com o PSD, nós estaremos emprestando nossa história a quem não tem história.
Então não há possibilidade de o DEM apoiar em São Paulo uma aliança que inclua o PSD?
Não posso falar sobre fatos que vão acontecer no ano que entra, mas não está nas nossas cogitações.
Como o DEM pretende recuperar o espaço perdido nas eleições municipais de 2012?
O DEM não tem atualmente nenhum prefeito nas capitais brasileiras, mas nós temos candidatos fortes em Aracaju, em Campo Grande, em Salvador, em Recife e em Fortaleza. Então, nós entramos na disputa municipal de 2012 com uma chance de sermos bem maiores do que somos hoje. A expectativa do partido para as eleições municipais, considerado o quadro que existe hoje, é de franco crescimento.
Os partidos de oposição falharam no primeiro ano de gestão da presidente Dilma Rousseff?
Eu acho que não falharam. Toda administração em começo de governo é muito forte. A oposição tem feito seu papel. Agora, infelizmente, nós não temos mais um número suficiente de parlamentares para instalarmos Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs). E o governo federal tem conseguido, apesar de tudo, com o número que dispõe, evitar processos efetivos de investigação. As demissões ministeriais têm ocorrido por pressão da imprensa, da oposição e da opinião pública, nunca por iniciativa do governo federal. Essa história de faxina é para inglês ver.
O que o DEM defende em uma provável reforma ministerial?
Um presidente que tem quase quarenta ministérios não tem oportunidade de despachar com todos os ministros. Do ponto de vista administrativo, é impossível conduzir a ação de uma nação sem a interlocução do comandante com aqueles que têm a obrigação de transmitir as suas ordens. Não há relação pessoal, não há comunicação. Eu acho que vinte ministérios já seria um número mais do que suficiente.
O DEM leva realmente a sério a hipótese de uma candidatura própria em 2014 para a sucessão presidencial?
É claro que é para valer. Um partido com a história do DEM não pode perder de vista a perspectiva de participar de eleições presidenciais. A meta do partido, de forma muito pragmática, é crescer em 2012. Se nós crescermos nas eleições municipais, se crescermos no plano congressual, é evidente que nós teremos condições de disputar uma eleição presidencial. A nossa interlocução preferencial é com o PSDB, mas não é compulsória. Nós temos a obrigação de buscarmos os caminhos do nosso crescimento e, mais na frente, vamos avaliar as conveniências partidárias para termos alianças ou não.
O senhor considera desgastada a atual polarização entre PT e PSDB no plano nacional?
Os fatos estão mostrando que, dentro da própria base do governo federal, há o surgimento de pretensões novas. A aliança do PSB com o PSD em torno do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a posição do PMDB de luta por hegemonia mostram claramente que esses partidos têm pretensões e que, na hora certa, essas pretensões vão ser colocadas na mesa.
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