Vinte e sete dias após dizer que só sairia da Esplanada "abatido à bala", o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, antecipou-se neste domingo, 4, à demissão iminente – já decidida pela presidente Dilma Rousseff – e entregou o cargo. Trata-se do sétimo ministro que cai em quase um ano de governo.
Enredado em uma teia de denúncias, Lupi perdeu o apoio do PDT, entrou em rota de colisão com o PT – que está de olho na vaga – e não conseguiu explicar à Comissão de Ética da Presidência acusações de cobrança de propina na pasta.
Na tarde deste domingo, Lupi se encontrou com Dilma, no Palácio da Alvorada. A presidente havia chegado na véspera de uma viagem a Caracas, na Venezuela, e o ministro já recebera recados de que sua demissão eram "favas contadas". Para se antecipar ao gesto, acertou com Dilma a saída antes mesmo da reunião da Executiva Nacional do PDT, marcada para esta segunda-feira, 5. Os termos da carta foram combinados com auxiliares da presidente.
"Tendo em vista a perseguição política e pessoal da mídia, que venho sofrendo há dois meses sem direito de defesa e sem provas; levando em conta a divulgação do parecer da Comissão de Ética (...) – que também me condenou sumariamente (...), sem me dar direito de defesa – decidi pedir demissão do cargo que ocupo, em caráter irrevogável", escreveu Lupi. "Faço isto para que o ódio das forças mais reacionárias e conservadoras deste país contra o trabalhismo não contagie outros setores do governo."
Foi o passivo de escândalos que selou o destino de Lupi e nem mesmo as juras de amor a Dilma adiantaram. Depois de desafiar a Comissão de Ética, que na quarta-feira recomendou a dispensa, ganhar tempo e anunciar que faria uma "análise objetiva" do caso, Dilma chegou à conclusão de que não seria possível segurar o auxiliar até a reforma ministerial, prevista para ocorrer no fim de janeiro de 2012.
O secretário executivo do ministério, Paulo Roberto dos Santos Pinto, assumirá o comando da pasta, interinamente, até o início do ano que vem. Ele é filiado ao PDT, mas não tem a simpatia do partido. Dilma, porém, não quer que o PDT indique um novo ministro agora. Motivo: ela pretende fazer um rodízio na partilha dos cargos e tirar o Trabalho do controle pedetista, na reforma da equipe.
Lupi é o sexto ministro que cai sob denúncia de corrupção. Pesaram contra ele, ainda, acusações de repasse de dinheiro do ministério para abastecer o caixa do PDT e patrocinar ONGs de fachada. Até agora, dos nomes abatidos na Esplanada, apenas Nelson Jobim (Defesa) não integrou a lista da "faxina". Foi dispensado por ter dado declarações consideradas "inconvenientes" sobre o governo.
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